Um potiguar na liga extraordinária dos quadrinhos
“Estou muito empolgado. Acabei de ver alguns esboços que Gabriel fez
e eles são fantásticos. A energia que há neles... o fato é que o cara
entendeu e comprometeu sua percepção com as ideias que estavam na minha
proposta, e parece que ele está adorando a coisa”, comentou o lendário
roteirista britânico de quadrinhos Alan Moore, 60, sobre seu novo
parceiro, o desenhista potiguar Gabriel Andrade Júnior. A entrevista,
publicada no site Bleeding Cool, canal encarregado de anunciar
oficialmente a novidade da editora Avatar Press (EUA), também ganhou
repercussão no Brasil.
A dupla une forças à frente do projeto “Crossed + One Hundred”, novela
gráfica de ficção sobre um surto zumbi que assola o planeta em um futuro
apocalíptico não muito distante. A história, assinada por Moore e
desenhada por Andrade, é um desdobramento da sanguinolenta “Crossed”
(criada em 2008 pelo irlandês Garth Ennis) e se passa um século depois
da trama original, em 2108.
Nascido em Macau, Gabriel Andrade, 29, é quadrinista exclusivo da Avatar
Press desde 2011, editora responsável pelo lançamento da nova série que
terá seis volumes. Com periodicidade mensal, o primeiro número sai
agora em dezembro nos Estados Unidos. O potiguar é o segundo brasileiro a
trabalhar com mister Moore, um dos nomes mais cultuados do quadrinho
mundial, e autor de histórias famosas como “V de Vingança”,
“Constantine”, “Watchmen” e “A Liga Extraordinária”, só para citar as
que chegaram às telas de cinema.
Também escritor, romancista, contista, músico e cartunista, foi o inglês
quem assinou o roteiro de “Batman: The Killing Joke” (Batman: A Piada
Mortal), HQ especial sobre o Homem-Morcego e seu arquiinimigo, o
Coringa, publicada em 1988 (e relançada em 2008) pela DC Comics.
“Ainda
não conheço ele (Alan Moore) pessoalmente, é tudo online, mas como vou
participar de dois eventos de quadrinhos nos EUA no próximo ano, quem
sabe não nos esbarramos por lá”, disse Gabriel, que até o lançamento de
"Crossed + One Hundred" em dezembro não pode dar detalhes sobre a série.
“Para
mim, trabalhar com Alan Moore neste projeto é muito mais um presente do
que um desafio. Sinto uma conexão muito forte com o mundo por trás
desta história, com todas as referências, livros, filmes, música e arte
conceitual que tem me acompanhado sendo exploradas aqui”, declarou
Andrade também para o site Bleeding Cool. “Tenho tido total liberdade,
tanto na criação do visual dos personagens quanto na formulação deste
novo mundo”, complementou.
“O texto inteligente, claro e detalhado de Moore me forneceu uma base
sólida para ilustrar, e experimentar, esse universo que estamos
criando”, disse o desenhista, elogiando o trabalho do novo parceiro.
Contatos imediatos
O contato entre Alan Moore e Gabriel
Andrade se deu a partir do traço do potiguar, impresso na HQ “God is
Dead”. “Para cumprir o prazo desse trabalho passei quatro dias
desenhando 16 horas por dia”, lembra. O esforço funcionou: hoje Gabriel é
o principal desenhista da Avatar Press, e quando Moore foi convidado
pela editora para embarcar no novo projeto escolheu o quadrinista
potiguar a partir do que ele tinha feito em “God is Dead”. Na Avatar
Gabriel também assinou as séries “Ferals” (HQ de lobisomem) e da
anti-heroína “Lady Death” - antes de fechar contrato de exclusividade em
2011 ilustrou versões em quadrinhos para os filmes “Duro de Matar” e
“Alien”.
Profissional das HQs desde 2008, Andrade começou a carreira colaborando
com editoras norte-americanas, agenciado pela Impacto Quadrinhos (SP). O
potiguar desenha desde criança, “por hobby”, e antes de decidir trilhar
por esse caminho chegou a cursar violão clássico e guitarra na Escola
de Música da UFRN. Por enquanto não pensa em sair do país ou do Rio
Grande do Norte, e confessa que não é fluente no idioma inglês. “Falo um
pouco, já tive mais fluência, mas acabei perdendo um pouco a prática.
Tenho compreensão do necessário, e às vezes os roteiros chegam sem
tradução, então tenho que desenrolar por aqui”.
O senhor do caos
Nascido
em família humilde, Alan Moore estava desempregado e sem nenhuma
formação profissional aos 18 anos, quando começou a trabalhar na revista
“Embryo”. Em 1979, com o pseudônimo 'Curt Vile', criou a história de
detetive “Roscoe Moscou” - trabalho que o fez chegar a conclusão de que
não era um bom ilustrador e que deveria se dedicar mais aos roteiros.
Suas primeiras contribuições como ficcionista foram para a série “Doctor
Who” e o título “2000 A.D.”. Contratado pela revista britânica Warrior,
começou a escrever “V de Vingança” uma de suas séries mais famosas.
Conquistou os Estados Unidos com a série de ecoterror “Monstro do
Pântano”, de onde saiu o personagem “Constantine”. Logo depois viriam
“Watchmen” e “A Liga Extraordinária”.
Fonte: TRIBUNA DO NORTE
Nenhum comentário:
Postar um comentário